E hoje, nos concentramos em uma uva italiana, mais especificamente, em uma casta da região da Toscana.

 

A Sangiovese (pronuncia-se sandiovése) que, na verdade, é um nome abrangente, já que inclui vários clones em sua árvore genealógica.

 

E que apesar das diferenças físicas serem sutis entre as uvas de Chianti e as colhidas em Montalcino, o sabor final é muito diferente.

 

Os vinhos da Sangiovese vão do ácido de corpo leve-médio e com notas de frutas frescas (amora, cereja), violeta e especiarias até os mais encorpados e tânicos, com aroma de couro, pimenta preta, frutas secas e defumados. Sendo estes últimos mais indicados para envelhecimento.

 

As variações também se fazem presente nas cores que podem variar nos tons de vermelho, do rubi ao granada.

 

De forma geral, podemos dividir a família entre a Sangiovese Grosso, a Sangiovese Piccolo e a Prugnolo Gentile.

 

Mas há muito mais variações, principalmente se considerarmos que, nos dias atuais, existem outros centros produtores além da Toscana.

 

Porém, vamos com calma, afinal, somos apreciadores de vinhos e sabemos da importância do processo de degustação.

 

Portanto, nada mais justo, que tentarmos ser mais específicos nestas classificações, primeiro, buscando o cerne desta casta de tintos.

 

 

Uma Uva Com Múltiplas Personalidades

 

A Sangiovese é reconhecida como a uva dos vinhos Chianti, que existem desde o final do século XIX.

 

Naquela data, a casta compunha 70% da base varietal, mas, hoje, as coisas evoluíram, possivelmente, para caracterizar melhor os vinhos da Toscana.

 

A regulamentação atual, determina 90% de Sangiovese para esta classe de vinhos e, portanto, é aí que está a casta, na sua integridade original.

 

Entregando uma boa dose de elegância e alta complexidade, desde que provenientes dos melhores fabricantes da Toscana.

 

Neste sentido, aliás, cabe dizer que mesmo lá, a diferenciação é difícil, porque existem muitos clones da Sangiovese.

 

E a separação que oferecemos no início é mais um guia do que uma regra. Principalmente, porque muitos enólogos discordam destas classificações. É dada mais atenção às características gerais dos vinhos clássicos da região, como a alta acidez e o corpo médio.

 

 

Os Supertoscanos

 

Durante o final de década de 1960 e início da década de 1970, devido a problemas como superprodução e safras de baixa qualidade, os vinhos Chianti estavam em um período de crise.

 

Foi, então, que um grupo de produtores da Toscana resolveu se rebelar contra as regras de regulamentação local.

 

Eles estavam insatisfeitos com a qualidade dos Chianti produzidos e queriam uma margem maior para experimentação e mudanças no processo produtivo.

 

E nesse cenário surgiram vinhos feitos com blends da Sangiovese e outras castas, principalmente francesas, que estavam fora da regulamentação do Chianti.

 

Por este motivo, é claro que esses vinhos não poderiam ser chamados de Chianti. A legislação não permitia.

 

E acabou com que foram classificados como ‘vinhos de mesa’ (a classificação mais baixa na Itália).

 

Mas o sucesso foi tão grande, com destaque para os mercados dos Estados Unidos e da Inglaterra, que passaram a ser chamados de Supertoscanos.

 

Explicando melhor, os Supertoscanos são vinhos produzidos na região da Toscana, mas que ficam de fora das regras de produção do Chianti e também não estão em uma categoria oficial.

 

Com o tempo, os Supertoscanos se tornaram mais conhecidos e apreciados pelo público em geral do que o próprio Chianti.

 

Mas, que fique claro que o prestígio e a qualidade dos vinhos Chianti, antes em crise, hoje, estão plenamente restabelecidos.

 

Ganham os apreciadores de vinho e a região da Toscana, que produz belos exemplares que vão do clássico ao moderno.

 

 

Expansão para Além da Toscana

 

A Sangiovese é uma casta que provou o seu valor ao longo de um processo complexo, cheio de idas e vindas. E este valor está representado na variedade de vinhos feitos com ela.

 

Tanto dos vinhos que a tem como uva principal, quanto dos vinhos que a incluem como coadjuvante. E há muitos deles.

 

Apesar de a maior parte da produção mundial da Sangiovese estar concentrada na península italiana, outros locais vêm apresentando bons resultados com esta uva.

 

Hoje, a Califórnia tem um papel importante na produção de vinhos a partir da Sangiovese. A casta conta com grande aceitação nos Estados Unidos e bons rótulos saem de lá.

 

Os produtores na Austrália também tem apostado na cepa ao longo das últimas décadas e o cultivo já se espalha por todo o país, com a maior concentração no leste.

 

Além disso, a nossa América do Sul está bem representada, com produtores da Sangiovese no Chile, Uruguai, Argentina e Brasil.

 

Então, é isso.

 

Fica aqui o convite para experimentar um Brunello di Montalcino e quem sabe ainda uma taça “reveladora” de um Chianti Classico.

 

E. é claro, não podemos esquecer dos Supertoscanos, como o Tignanello e Solaia, dentre muitos outros.